sexta-feira, 27 de maio de 2011

Jamais Fomos Modernos









O livro “Jamais Fomos Modernos – ensaio de antropologia simétrica” de Bruno Latour, publicado pela editora 34 com tradução de Carlos Irineu da Costa, trata da modernidade a partir de uma perspectiva que questiona a existência da própria modernidade. O autor diz que, após a queda do muro de Berlim em 1989, assistimos à derrota do socialismo e ao mesmo tempo a realização das conferências sobre o estado global do planeta que nos levaria à observação de que o capitalismo não tem conquistas ilimitadas de dominação total do planeta, ao contrário do que parecia ocorrer anteriormente com a explosão tecnológica do século XX. Diante disso, Latour coloca três correntes de pensamentos: a dos modernos, que ainda acreditariam nas propostas da suposta modernidade, os anti-modernos, que tem uma postura reacionária diante da  modernidade e os pós-modernos, que seriam os céticos que recusando as duas posições anteriores ficariam em dúvida a esse respeito. Dito isso, Latour questiona esses pensamentos discutindo se algum dia já fomos modernos. Para analisar essa hipótese, o autor parte de uma investigação da constituição moderna e da construção ideológica que fundamenta a sociedade e propões novas possibilidade de pensamento sobre a sociedade que não possua essa divisão entre modernos e não-modernos.O livro é dividido em cinco capítulos. O primeiro, entitulado “A crise” refere-se à constante divisão que se faz das áreas de conhecimento e sua separação dos interesses, poder e política dos homens. Diz que se costuma tratar os assuntos de acordo com três categorias dos críticos: a natureza, a política e o discurso, mas que essas pesquisas assim divididas não seriam a respeito da natureza ou conhecimento, nem da política, nem do discurso, mas sim seriam a respeito de “seu envolvimento com nossos coletivos e com os sujeitos”. Por isso, nossa vida intelectual seria mal construída, por não perpassar essas três categorias, mas sim separá-las como se fossem distintas em sua relação com os indivíduos e a sociedade. Por esse motivo a crítica entraria em crise, por se debater contra essas redes, tentando dividi-las em categorias distintas e não relacionadas. Porém, Latour coloca que a antropologia trata sem problemas dessas redes das naturezas-culturas, mas que isso não poderia ser aplicado à modernidade, já que a ciência não poderia associar-se às etnociências. Por isso, propõe que essa antropologia do mundo só é possível se alterarmos a definição do mundo moderno.O segundo capítulo, “Constituição”, trata-se de uma análise dos valores sociais que permeiam a sociedade moderna – o mundo natural e o mundo social seriam separados também através da constituição. É o momento quando o autor chega a conclusão da inexistência da modernidade. Latour procura descrever a Constituição através de uma situação que considera “exemplar”: o momento em que Boyle, o cientista e Hobbes, o cientista político discutem a respeito da repartição dos poderes científicos e políticos. Esse é um trecho bastante interessante do livro, onde Latour consegue uma analogia esclarecedora entre a situação descrita e o que pretende dizer sobre a elaboração da constituição. Daí diz que o mundo moderno nunca existiu, já que jamais funcionou de acordo com as regras de sua Constituição. E propõe uma revisão como a ocorrida durante a Revolução Francesa, o que parece um tanto quanto exagerado e pretensioso, especialmente por se tratar de uma questão tão teórica. Insiste sempre em dizer o quanto não somos modernos e nunca o fomos, mas nunca explicita com clareza qual a idéia de “moderno” que usa em sua recusa. Diz também que a Constituição “acelera ou facilita o desdobramento dos coletivos, mas não permite que sejam pensados; assim, deve-se estudar o que ela permite e proíbe, o que revela e esconde, deixando assim de ser moderno no sentido da Constiuição”.
“Revolução”, o terceiro capítulo, propõe a ocorrência de uma revolução ocasionada pela multiplicação dos híbridos (ou seja, quando foram surgindo cada vez mais questões tecnológicas que não se poderia colocar do lado dos objetos nem do lado dos sujeitos), que tenha feito com que o quadro institucional mantivesse e ao mesmo tempo negasse sua existência. Assim, as filosofias modernizadoras faziam a separação entre natural e social. Com isso, começa a crescer uma estratégia para dar conta do meio desses dois extremos – a linguagem. Todas as filosofias referente a ela, colocariam o discurso como mediador independente tanto da natureza quanto da sociedade e não um intermediário que colocaria o sujeito humano em contato com o mundo natural; e assim limitaram-se ao discurso.No capítulo “Relativismo”, Latour traz a idéia de que a antropologia poderia descrever nosso mundo já que não mais se chocaria com as ciências e as técnicas, devido à analise da Constituição e conseqüente conclusão de que jamais fomos modernos. Porém, para isso, deveria haver uma modificação no estado da antropologia atual, tornando-a simétrica, ou seja, tornando-se comparativa para que possa ir e vir entre modernos e não-modernos. Outra questão interessante proposta nesse capítulo é a não existência de culturas, pois essa noção de cultura seria um “artefato criado por nosso afastamento da natureza”. O que existiriam seriam naturezas-culturas que constituiriam a única base para comparações. Isso porque todos, da mesma forma, construiriam ao mesmo tempo coletivos humanos e não-humanos que os cercam.
“Redistribuição”, o quinto e último capítulo, pretende responder a questão do mundo não-moderno esboçando uma Constituição que leve em conta o que a primeira havia deixado de lado e escolhendo as garantias a serem mantidas, dando, assim, representação para os quase-objetos ao se considerar a sociedade e a natureza dos coletivas de forma não polarizada.


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