segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sacristán e o Iluminismo

                                          Gimeno Sacristán
Tomando como referência nosso texto de apoio (Boa ventura) bem como o seminário apresentado por João Paulo e Ivone a partir do livro Mal-estar na modernidade, de Sérgio Paulo Rouanet (1993), apresentamos abaixo algumas reflexões realizadas por Gimeno Sacristán, professor da Universidade de Valência, na Espanha, acerca da questão iluminismo e multiculturalismo e suas relações com a educação no contexto atual.
De acordo com Sacristán (2001) o sonho do Renascimento, consagrado principalmente a partir do século XVIII, tinha a racionalidade como subsídio para o progresso humano. O desenvolvimento dessa racionalidade dependia da apropriação de bens culturais pelo maior número possível de pessoas, pois “A grande esperança da modernidade está em que a posse da cultura ‘densa’ aperfeiçoe as faculdades intelectuais e transforme-se em virtude ou guia de conduta, em modo de vida, porque da prática da racionalidade apenas o bem pode acontecer...” (Sacristán, 2001, p. 43). Nesse contexto, a educação ganha destaque, pois é ela que vai possibilitar a apropriação de alguns bens culturais capazes de libertar o ser humano das limitações de sua origem pelo desenvolvimento da racionalidade. Embora o projeto moderno de educação valorizasse a acumulação dos saberes que compõem a “tradição”, não os considerava definitivos e sim sujeitos a múltiplas leituras bem como à constante revisão dos conteúdos tidos como valiosos.  No entanto, se nosso legado cultural – os conhecimentos historicamente produzidos – foi manipulado nas escolas e “Serviu para estimular uma idéia de progresso muitas vezes mutilador do meio ambiente, das pessoas e dos grupos sociais desfavorecidos” (Sacristán, 2001, p. 49), isso não nos autoriza a aspirar ao bem suprimindo a apropriação do conhecimento historicamente produzido e da racionalidade dele decorrente. Nas palavras de Sacristán:

“(...) tudo isso não pode conduzir-nos a um neoprimitivismo ou a um multiculturalismo absoluto em seu relativismo. A mensagem iluminista deve ser refeita a partir de bases mais plurais, com uma geografia mais desencentralizada (...), mas fora dela não temos nada do que partir. O desafio mais importante do futuro é unir os valores universalizadores do iluminismo com a pluralidade de modos de desenvolvê-los a serviço de uma idéia de progresso mais multilateral do homem e mais amplamente democrática.” (p. 49/50) 
Nesse sentido, embora adotando abordagens diferentes, tanto Sacristán como  Rouanet têm uma postura crítica em relação a pós-modernidade defendida por Boaventura em seu artigo.

SACRSTÁN, Gimeno. A educação que temos e a educação que queremos. In: IMBERNON, Francisco et El. A Educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. 2. Ed. Porto Alegre: Artes Médicas do Sul, 2001.

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